Não sei se isso acontece com vocês, queridas leitoras e leitores. mas à medida que vou me aproximando do Clube Internacional de Regatas, os sons projetados por detrás dos muros vão pincelando em minha memória afetiva lembranças nostálgicas, com as quais adoro flertar.
A fricção da borracha dos tênis nas quadras, em disputadas partidas de vôlei, basquete e futebol de salão; os golpes das raquetes de tênis e de tamboréu, empurrando para o fundo das quadras as chances de vitórias dos adversários; os potentes chutes que explodem em alegria de gol no futebol e os pontos no beach tennis comemorados com empolgação, ambos praticados no campo de areia, conhecido como Arena Interbol; as vigorosas braçadas que rasgam as raias da piscina semiolímpica; o rolar dos patins de hóquei e de patinação a criar ataques vibrantes e bailados estonteantes; as falas motivacionais dos professores de ginástica, que transmutam em energia positiva aos ouvidos de seus alunos.
Toda essa variedade de sonoridades ilustra a lendária vocação do nosso amado clube em forjar inexperientes adolescentes ao podium de eatletas campeões. Mais do que isso, de suas fundações exala a energia que impulsiona essa sede de conquistas, tão próprias do DNA Vermelhinho: falo da resiliência, uma natural capacidade de se adaptar e se recuperar diante de uma adversidade, através da força interior de cada atleta ou associado.
Algo que já se manifestava de forma retumbante em nosso memorial, desde o momento em que trinta e seis atletas náuticos decidiram concretizar seus ideais de agremiação sócio esportiva na Ata que assinaram em 24 de maio de 1898, na Rua Martim Afonso nº1.
Ao longo desses quase 125 anos foram muitos os passos que marcaram nossa História, sempre em busca do protagonismo no cenário esportivo regional e nacional.
A começar pelas constantes mudanças de sedes sociais, no início de sua fundação, visando áreas e terrenos maiores para sedimentar as ambições visionárias do clube.
A epopeia em busca do lugar perfeito se iniciou em 1889 com a aquisição da primeira área, na região de Bocaina, pela quantia de Rs:1.500$000, o equivalente a R$84.000,00 nos valores de hoje, sem contar a inflação. No entanto, o local já contava com algumas construções: dois pequenos barracões; um para a guarda dos barcos, e outro para a instalação da oficina de reparo das embarcações; e um chalé para recreio dos associados. Por falta de espaço, a secretaria do Clube funcionava na Praça Mauá, nº 25.
É certo que o clube seguiu em sua jornada, entre compras, vendas, e alugueis de terrenos e construções, até se estabelecer definitivamente na região da Ponta da Praia, em frente à fortaleza da Barra Grande. E assim, seguindo com seu propósito, o Clube Internacional de Regatas moldou o perfil em fomentar o Esporte, não importa qual fosse a modalidade.
Cada presidente que teve o privilégio de controlar o timão da nau Vermelhinha contribuiu de alguma forma para as conquistas que se sucederam. E aqui, faço a importância de citar alguns, para representar a dedicação e paixão fervorosa pelo clube, sentimentos em comum a todos os presidentes do Internacional de Regatas.
Como o saudoso Arnaldo de Barros Pires, que em outubro de 1945 iniciou a construção do Ginásio de Esportes, obra que foi entregue em 24 de maio de 1948, na celebração de 50 anos do Clube Internacional de Regatas. Tão grandiosa quanto esperada, não só pelos associados mas também pela cidade de Santos, por conta da possibilidade de realização dos Jogos Abertos do Interior.
E assim, diante das expectativas, o Internacional foi palco de dois Jogos Abertos do Interior: o primeiro, em 1946, quando ainda estava em fase inicial de acabamento; e o de junho de 1948, dias após a sua inauguração oficial.
Já em 1952, sob a batuta de Nelson Serra na presidência, iniciou-se a construção da quadra externa de basquete e a piscina de competição, obra mais complexa, a primeira entre os clubes poliesportivos da cidade e que, com a sua inauguração em 1954, iniciaria uma época áurea da natação santista.
Vieram as construções do campo de areia, as áreas para o judô e karatê, as quadras de tênis e de tamboréu, o ginásio poliesportivo, situado entre as quadras de tênis.
Na gestão do saudoso José Vidal Sion, o campo de areia, que havia sido desativado para a construção de uma nova sede social, retornou para a prática do futebol. Outro espaço conquistado para os associados foi o mini ginásio Aníbal de Souza, conhecido como o “La Bombonera Vermelhinha”, por exercer certa pressão nos times adversários, dada as tímidas dimensões que se tornam explosivas, detonadas peleos cânticos e vozes de nossa inflamada torcida.
Espaços que hoje são frequentados por mais de 450 atletas, das mais variadas modalidades.
Mas houve um momento em que os grandes investimentos nos esportes de competição no clube ficaram um pouco desestruturados, não pela capacidade de gestão de diretores e presidentes que se alternaram na condução do clube, mas porque o modelo de sociedade contemporânea e seus valores sofreram profundas mudanças, e o clube decidiu apontar suas prioridades para outras questões, tão importantes quanto as esportivas, usando de resiliência para superar anos de adversidades.
Um fato foi divisor de águas para uma nova fase esportiva na qual o Clube Internacional de Regatas estava destinado a mergulhar: a gestão do nosso presidente Ricardo Ferreira de Souza Lyra e sua aproximação com o Comitê Brasileiro de Clubes – CBC.
Importante aqui, queridas leitoras e leitores, abrir um parênteses e ressaltar a importância icônica do Clube Internacional de Regatas na história do Esporte da região. O nosso amado Vermelhinho foi fundador de inúmeras federações.
Entre elas, a Confederação Nacional de Clubes – CBC, que surgiu em 1990 com o propósito de incentivar a criação das primeiras federações estaduais, além de instituir e apoiar a realização de Congressos para discutir e refletir o movimento clubístico.
Em 2002, o Inter apoiou, como integrante da CBC, a constituição da Federação Nacional de Clubes – FENACLUBES, criada para também atuar na defesa dos Clubes junto ao Congresso Nacional e o Governo Federal.
Após participar ativamente de várias conquistas, contribuindo na elaboração de leis como o Estatuto do Torcedor, o Programa Bolsa Atleta, a Lei de Incentivo Fiscal ao Esporte, a CBC atingiu seu ápice ao participar da alteração da Lei Pelé, em 2011, considerada a maior conquista da história do movimento clubístico nacional.
Como fruto desse protagonismo, o CBC – denominado Comitê Brasileiro de Clubes – foi incluído no Sistema Nacional do Desporto – SND – e desde 2014 passou receber e descentralizar recursos da Nova Lei Pelé, tendo como única missão institucional a formação de atletas olímpicos e paralímpicos, através de chamamentos de Editais fomentados por percentuais de valores recebidos através de concursos de prognósticos federais (Loteria Esportiva, Sena, Mega Sena, etc)
Na época, ainda com poucos clubes sendo atendidos por esses Editais, dadas as exigências as quais os mesmos deveriam ser submetidos, surgiu a oportunidade de revigorar o DNA formador de atletas do nosso amado Vermelhinho, agora com o respaldo financeiro de instituições federais.
Curioso e determinado a entender todo o processo, Ricardo começou a participar das reuniões que ocorriam regularmente.
Como todo ano acontecia, o CBC promoveu um grande evento com a presença de todos os clubes associados da entidade, sempre em um local exclusivo. Naquele ano seria num resort no Costão do Santinho. E como sempre, cada clube teria o direito a quatro convites, geralmente para o presidente, vice-presidente, e esposas.
Determinado, Lyra convocou três diretores do clube para comparecerem ao evento, e lá procurarem entender ao máximo do que se tratavam esses projetos do CBC.
Chegando lá, Lyra foi conduzido para uma reunião do Conselho Interclubes, onde apenas trinta clubes do Brasil fazem parte. Ao entrar no ambiente, uma grata surpresa esperava por Ricardo: o presidente do Conselho Interclubes, ex-presidente do Clube Pinheiros, era seu amigo pessoal, jogavam tênis em Poços de Caldas, no Condomínio Quisisana, do qual também seu amigo era síndico.
Lyra, sempre cativante, despojado da vaidade e extremamente sincero, provocava sempre o melhor nas pessoas quando o encontravam. E não foi diferente com seu amigo: após ser recebido com festas e abraços fraternos, ouviu dele “Ricardo, vem cá! Eu vou te ajudar em tudo o que você precisar!”.
Após o retorno desse evento, Ricardo Lyra e sua equipe se debruçaram a entender todo o processo para retomar a posição de destaque do Clube Internacional de Regatas como fomentador de talentos olímpicos.
Passou a frequentar assiduamente as reuniões promovidas em São Paulo. E logo na primeira, percebeu a grandiosidade que o Internacional de Regatas representa para os outros clubes.
Ricardo, assim como a maioria dos nossos associados, entendia o Inter como um clube local, Para sua surpresa, ao ser apresentado nessa primeira reunião aos presidentes dos clubes Pinheiros, Paulistano, e Paineiras, ouviu deles “Que bom que o Inter voltou”, “nova safra olímpica a caminho”, “que bons frutos nos traga a piscina mais rápida do Brasil”.
Ricardo nem imaginava, mas aos olhos dos grandes clubes paulistanos, conhecidos como “The Big Three”, o Clube Internacional de Regatas era reconhecido no Estado todo como um clube formador de atletas. Um clube de porte médio, mas que agrega em muito a esse grupo.
E essa força de investimento no esporte através do CBC se deve ao fato de que, no Brasil, os clubes são os responsáveis por desenvolver e revelar talentos nos mais diversos esportes. Nos Jogos Olímpicos Rio 2016, por exemplo, entre os 465 atletas que integraram a delegação brasileira, 390 foram formados em clubes – o que representou 84% dos participantes. Entre dezenove pódios em que o Brasil esteve presente, em 2017, seus atletas passaram por clubes esportivos formadores de atletas, o que representou um porcentual de 89% entre os medalhistas.
Com essas informações, Ricardo tinha uma certeza: o clube só precisava aprender a fazer os projetos.
E foi assim que, desde o ano de 2017, o Clube Internacional de Regatas possui convênio firmado com o projeto do CBC, para formação de atletas olímpicos, das modalidades de Judô, Natação, Polo e Basquete.
Na ocasião, nosso amado clube recebeu investimentos, através de Edital, para reformar o Ginásio Poliesportivo, a Academia dos Atletas e a Sala de Artes Marciais. Além de pinturas e reparos, o Ginásio recebeu duas tabelas móveis portáteis elétricas e a instalação do piso de madeira de lei fixa flutuante. Para a academia, foram adquiridos novos aparelhos e a sala de judô recebeu três áreas de luta, com o mesmo tatame utilizado nos jogos olímpicos.
Em 2020, por exemplo, chegaram mais materiais esportivos: bolas de basquete e de polo aquático, além de quimonos para os atletas de judô.
Em 2021, a Vela e o Tênis passaram a fazer desta parceria, que apoia e impulsiona os clubes de todo o Brasil. Através de Editais, são investimentos para aquisição de materiais esportivos, instalações e contratação de profissionais (entre técnicos, auxiliares, preparadores físicos e fisioterapeutas). E com isso, recebemos através desses Editais barcos para a Vela, e máquinas lançadoras de bolas para o tênis.
Da próxima vez que entrar em nosso amado clube e dedicar um pouco de atenção para as atividades de uma de nossas escolinhas, pode ser que naquele exato momento você esteja comtemplando o surgimento de um futuro atleta campeão.
Ou, como nos melhores sonhos forjados pelo suor da dedicação, um medalhista olímpico.
Saudações Vermelhinhas!
(Esta crônica é uma homenagem à família Vermelhinha Figueiredo Lyra)
MICROBIOGRAFIA CLUBÍSTICA – A História da família Figueiredo Lyra no C.I.R.
(Em breve)