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O dia em que Poseidon dominou as raias vermelhas


O dia em que Poseidon dominou as raias vermelhas

Hoje quero confidenciar a vocês que, entre tantas amizades que fiz no clube Internacional de Regatas, algumas delas guardo em local especial de minhas memórias afetivas.

Dias desses resgatei lembranças memoráveis ao rever minha querida homônima Maria Helena caminhando pela alameda principal do clube, em minha direção.

Entre eu ali, sentada à mesa, e a Maria Helena que caminhava, existia uma diferença de treze anos entre nossas idades.  O que fez de Helena, na origem de nossa amizade, minha professora particular de português, exatamente no mesmo período em que lecionou no Externato Casa Pia São Vicente de Paulo, colégio de freiras que ficava na Avenida Epitácio Pessoa.

Lecionar não é bem o termo. Para Maria Helena era uma vocação, a qual dedicou todo o seu Amor, até se entregar à de zelosa mãe e dedicada esposa.

O fato é que passamos a tarde no entorno de uma mesa disposta na área social, sorvendo refrescantes goles de guaraná entre uma conversa e outra, enquanto observávamos o ir e vir de sócios, como se estivéssemos, a beira-mar, saboreando o espumar das brumas trazidas pelo delicado movimento do mar.

Das inúmeras passagens que resgatamos, entre a distante época de minha infância ao presente momento, algumas memoráveis se destacaram, todas nos transportando à piscina semiolímpica do nosso Clube Internacional de Regatas.

Como esquecer do saudoso Adalberto Mariani, atleta e treinador de natação do clube desde o final dos anos 40? Amigo de Miguel, esposo de Maria Helena, Adalberto rasgava o centro das raias da piscina do Vermelhinho com a desenvoltura de uma poderosa fragata avançando pelo oceano, como se dele Poseidon se apoderasse. Já Miguel  adorava saltar dos trampolins, que na época o destacavam na piscina, demonstrando exímio domínio corporal nas acrobacias aéreas, como um argonauta conquistando o espaço ao redor.

Passávamos horas assistindo aos desafios propostos entre Adalberto e Miguel, como se buscassem um imprimir ao outro a posse daquele espaço aquático. Invariavelmente, o cansaço vencia a insistência dos dois e, juntos, saiam rindo em direção ao vestiário para, depois de uma ducha, beliscarem acepipes, sempre acompanhados de uma caprichada caipirinha de limão.

Em outra memória afetiva resgatada, nos víamos conversando na arquibancada da piscina semiolímpica, em pleno inverno, em outro contexto: Maria Helena acompanhava o pequeno Marcelo em suas aulas de natação, onde Adalberto, já treinador, desfilava seu eficiente estilo ortodoxo de treinamento.

Diminuindo o tempo de treino na água gelada, fazia a garotada atravessar a piscina a nado, pular a grade, escalar a arquibancada e, ao conquistar o topo, fazer vários polichinelos. Depois, desciam a arquibancada, atravessavam novamente a nado a piscina, pulavam o alambrado, escalavam a arquibancada oposta, faziam flexões. E assim continuavam nesse vai e vem algumas vezes, todos se divertindo, sob o experiente olhar de Adalberto, que brilhava, como se dele revelasse o eterno adolescente que era.

Uma última memória afetiva nos resgatou a emoção de décadas depois, nos remetendo ao dia 02 de julho de 1993: lá estávamos eu e Maria Helena, espremidas em meio a centenas de outros sócios que ocupavam cada centímetro da arquibancada da piscina semiolímpica, para assistir não só às provas do Troféu José Finkel – o mais importante do circuito brasileiro de natação – mas também para torcer pelo jovem atleta olímpico de 20 anos, Gustavo Borges, que anunciou em sua chegada a Santos a tentativa de bater o recorde mundial dos 100 metros nado livre em piscinas curtas.

A piscina do Vermelhinho já ganhara fama de ser a mais rápida do Brasil, tanto era o número de tentativas e alguns recordes importantes já estabelecidos em suas raias vermelhas. Por conta disso, ninguém arredava o pé do local, aguardando o grande momento.

Dada a esperada largada, a arquibancada explodiu em gritos de estímulo e assovios desconexos. A cada braçada, o jovem Gustavo avançava impetuosamente pela raia, como se Poseidon tivesse se apoderado novamente de uma atleta que desafiava aquelas raias vermelhas. Os sócios mais antigos, desavisados, poderiam achar que voltaram no tempo, e ali viam ressurgir Adalberto Mariani. Ou Manoel dos Santos, outro recordista mundial que passou pelo Vermelhinho na década de 50, onde teve como treinador o próprio Adalberto.

As últimas braçadas foram mais vigorosas. Ao tocar a palma da mão na mureta, Gustavo alcançou o Olimpo dos recordistas mundiais. A arquibancada explodiu em alegria, a emoção tomou a todos e, ao olhar para a minha querida amiga Maria Helena, as lágrimas tomavam parte de nossos rostos. Um momento memorável, entre tantos outros, que aconteceram na piscina mais rápida do Brasil. Digno da placa comemorativa que recebeu, para eternizar o feito do jovem Gustavo Borges.

Refeitas das emoções que tais lembranças trouxeram ao presente reencontro, nos despedimos afetuosamente. Um até breve, como deve ser tais promessas entre amigas.

Quando foi meu momento de ir para casa, olhei de relance para a arquibancada da piscina e, por um instante, imaginei Poseidon observando atento, em meio ao treino das categorias de base do Vermelhinho, o próximo atleta a ser elevado ao Olimpo.

 

Saudações Vermelhinhas!

(Essa crônica é uma homenagem à família Vermelhinha Crescenti)

 

MICROBIOGRAFIA CLUBÍSTICA – A História da família Crescenti no C.I.R.

Em 1933, o saudoso Prof. Pedro Crescenti se mudou para Santos com a missão de assumir a direção do Instituto Escolástica Rosa, tendo a responsabilidade, entre tantas, de aferir a competência profissional e habilidades manuais (marcenaria, elétrica, panificação, etc.) dos estrangeiros que imigravam para o Brasil em busca de oportunidades e uma possível recolocação no mercado de trabalho.

Ao lado de sua amada esposa, Profª Helena Caiuby Crescenti, passou então a morar nas dependências da instituição e a se relacionar com a comunidade. O casal teve onze filhos – três deles falecidos ainda bem pequenos.

Seus oito filhos: Irma Caiuby Crescenti, (nome de casada Irma Caiuby Crescenti Vieira Dias); Maria Theresa Caiuby Crescenti, (nome de casada Maria Theresa Caiuby Crescenti Bernardes); Maria do Carmo Caiuby Crescenti; Elzira Maria Caiuby Crescenti, (nome de casada Elzira Maria Crescenti Abdalla); Maria Helena Caiuby Crescenti, (nome de casada Maria Helena Crescenti Aulicino); Maria Cecília Caiuby Crescenti, (nome de casada Maria Cecília Crescenti Brandão).

Além disso, para orgulho da família Crescenti, dois filhos atenderem ao chamado vocacional religioso: José Geraldo Caiuby Crescenti, que se tornou padre, em 1947 já estava no seminário; e Maria Rita Caiuby Crescenti, que se tornou freira ainda bem jovem.

Já integrado ao cotidiano santista, o Profº Pedro tornou-se sócio do Clube Internacional de Regatas em 1947, a pedido da filha Maria Helena, então com doze anos de idade, pois queria muito frequentar o clube. Sua paixão pelos patins logo se converteram em aulas de patinação. Além de Maria Helena, passaram a frequentar naquela época as irmãs Elzira e Maria Cecília.

Muitas foram as passagens memoráveis da família Crescenti nas dependências do clube.

Após casadas, tornaram-se sócias, dependentes de seus maridos, Maria Helena, casada com Miguel Aulicino Filho; Elzira, casada com Abdalla Bechara Abdalla; e Irma, casada com Romeu Vieira Dias.

Aqui, algumas curiosidades sobre o sócio Miguel Aulicino Filho, que se tornou sócio por conta da influência da esposa Maria Helena, sócia do clube enquanto solteira. Na juventude, Miguel foi atleta de natação do Clube de Regatas Vasco da Gama, Clube de Regatas Saldanha, e do Tênis Clube de Santos, nunca tendo defendido as cores do CIR. Já como sócio do Vermelhinho, foi Conselheiro e, por alguns dias, futuro diretor na gestão de Carlos Varella Lamberti. Entretanto, declinou do cargo por conta de uma grave doença que se abateu sobre sua esposa Maria Helena, fazendo com que se voltasse com intensidade para essa delicada situação familiar.

Hoje a família Crescenti está representada na Família Vermelhinha pelos filhos de Miguel e Maria, a saber:

Marcelo Crescenti Aulicino, presidente da gestão 2021-2022, sua esposa Maria da Graça Giordano de Marcos Crescenti Aulicino, e o filho Raphael Augusto de Marcos Aulicino, que frequentou o clube desde o nascimento, praticou futebol (com o Prof. Emílio Justo, nosso querido Maloca), judô e natação. Mora atualmente em São Paulo, e por isso não tem frequentado o clube, embora tenha um título à disposição;

Rubens Crescenti Aulicino, casado com Sandra Helena da Silva Aulicino, pais de Alessandra, sócia dependente;

Gisela Crescenti Aulicino e Sá, casada com Otávio Gil Macedo de Sá – sócio do Clube desde criança -, pais de Jhenifer e Victor Hugo, sócios dependentes.

Carlos Crescenti Aulicino, deixou de ser sócio, mas guarda em sua memória afetiva lembranças e momentos memoráveis do Clube Internacional de Regatas.