A cidade de Santos amanheceu naquela terça-feira de maio de 1898 bem agitada, com o movimento de veículos transportando o início da safra de café pelas docas, para embarque nos vapores atracados no cais.
Essa efervescência também ganhava as ruas do Centro à medida que o badalar dos sinos da Igreja de Santo Antônio do Valongo anunciavam o avançar das horas, com grande movimentação na Praça do Comércio, Alfândega, Recebedoria de Contas, e seus entornos.
Em meio a esse frenesi, a figura de meu bisavô, Albino Jaime Pimenta Ribeiro, contrastava com o cenário, tamanha a tranquilidade de seus passos firmes e a serenidade em seu semblante.
Como vovô Agostinho sempre lembrava, nada abalava o saudoso pai. Representante dos negócios familiares na cidade, meu querido bisavô Albino tinha herdado a austeridade e a firmeza paterna, traços reconhecidos e respeitados pelo comércio cafeeiro e financeiro local. Como atleta de remo, trazia a determinação estampada em seu olhar, e a dedicação lapidada em seu corpo atlético; sempre revertidas em troféus, medalhas e aplausos da população, que comparecia aos eventos náuticos, disputados no canal do Estuário, em grande número.
E, sim, aquela terça-feira era um dia especial.
Logo mais à noite, participaria de uma assembleia onde seria proposta a criação de um novo clube esportivo da cidade, já que ele e outros trinta e seis atletas náuticos estavam insatisfeitos com as diretrizes do clube de Regatas Santista, que até semanas antes defendiam com suas vigorosas remadas e habilidades náuticas.
A escolha do primeiro presidente da nova agremiação já estava alinhada entre meu bisavô Albino e seu grande amigo, Carlos Beyrodt: tal honra seria concedida ao capitão João Scott Hayden Barbosa, que tantas provas náuticas vencera ao lado de meu bisavô, e cuja reputação era ilibada.
No horário determinado para o início de tão aguardado encontro, a imponderabilidade do Destino fez meu bisavô Albino tomar outro rumo: ao invés de adentrar decidido no salão em que aconteceria a memorável assembleia, invadiria esbaforido a área de acolhimento da Santa Casa de Misericórdia, deixando um rastro de perplexidade no rosto de todos que se encontravam no local.
Minha bisavó Maria Esterlina Nascimento Ribeiro entrara em trabalho de parto, com poderosas contrações, de intervalos cada vez menores, o que aumentara ainda mais a ansiedade em meu bisavô, no trajeto até a Santa Casa.
Sentado, mãos ainda trêmulas, meu querido bisavô de nada lembrava o austero rapaz de Ribeirão Preto ou o determinado atleta devorador de medalhas. Restara apenas – segundo divertido comentário do amigo João Scott, dias depois – o marinheiro de primeira viagem, experimentando o florescer do sentimento paterno.
Suas emoções, suspensas em um limbo caótico, foram subitamente ressuscitadas às sete e meia da noite, quando um poderoso choro de criança tomou o corredor do hospital e o libertou de estado tão ansioso.
Nascia o meu querido avô Agostinho Antunes Pimenta Ribeiro. Curiosamente no exato horário em que, não tão longe dali, florescia a mais nova agremiação esportiva da cidade: o Clube Internacional de Regatas.
Uma coincidência que tornou aquele dia para todos, mais do que especial, o início de uma história de Amor e Fidelidade entre uma agremiação sócio esportiva e minha amada família.
Saudações Vermelhinhas!
Sensacional, parabéns ao Inter e em especial ao corpo associativo que mantém viva essa maravilhosa história de glorias e tradições tanto esportivas como sociais.
Parabéns pelo início das publicações desse grandioso projeto. Através dos personagens reais e daqueles que você criou, a família Vermelhinha conta sua história. Sensacional!
Um abraço,
Marcelo